quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Butantan usa veneno de peixe para combater asma


Uma droga desenvolvida a partir do veneno de um peixe chamado niquim, também conhecido como peixe-sapo (encontrado nas regiões Norte e Nordeste do país) é a nova descoberta do Instituto Butantan no combate à asma. 

E com a vantagem de não apresentar os mesmos efeitos colaterais dos corticoides, medicamentos mais usados hoje contra a doença. As informações são da Agência Brasil.

"Hoje, o principal medicamento utilizado para a asma são os corticoides, que são muito bons, mas que não podem ser usados continuamente por causa dos efeitos colaterais. A vantagem do nosso é que é um produto natural, fácil de ser feito, brasileiro, e sem os efeitos colaterais'', disse Monica Lopes Ferreira, uma das responsáveis pela pesquisa.

Há 14 anos Monica pesquisa o veneno de peixes no Butantan, em São Paulo. Há quatro anos, dedica-se especialmente a analisar a composição do veneno do niquim e sua atuação em camundongos, descobriu a presença de um pequeno componente, chamado peptídeo, que tem função anti-inflamatória.

"Ele pode não só prevenir a asma, como tirar o paciente da crise. Isso já está sob patente no Brasil e em outros oito países'', afirmou.

"A asma é uma doença inflamatória, controlada geneticamente e que recebe muita influência ambiental. Então, a poluição exacerba a inflamação asmática'', explicou Carla Lima, doutora pela USP na área de imunologia.

Segundo ela, o número de pessoas que sofrem com asma vem crescendo muito nos últimos 20 anos no país, principalmente por causa de fatores como a poluição. "No Brasil, há cerca de 15 milhões de pessoas sofrendo com asma, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.''

A pesquisa sobre a nova droga aguarda agora a fase de testes clínicos -que serão realizados pela indústria farmacêutica- para poder finalmente chegar ao mercado.

"A parte científica, que envolvia todas as descobertas e o mecanismo de ação, já foi feita no Instituto Butantan. A segunda parte é uma parceria com o laboratório Cristália, que fará os testes clínicos e irá agora (analisar) de que maneira ela (a droga) será utilizada -se será comprimido ou aerosol. Só depois dessa etapa é que ela poderá ser comercializada'', afirmou Monica.

De acordo com a pesquisadora, a droga poderá ser lançada no mercado em prazo de três anos se houver grande investimento por parte do laboratório.


Texto adaptado de: http://jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=6&n=2647

Líder em genômica diz que fomos ingênuos sobre potencial de sequenciamento do DNA


Um dos grandes líderes da pesquisa com genoma humano no mundo, Eric Green, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano (EUA), fez, em visita ao Brasil, um mea-culpa pelas promessas não cumpridas do genoma humano.

Dez anos após o sequenciamento ser apresentado, ele reconhece que analisar os dados levantados e relacionar determinados genes a determinadas doenças se mostrou algo difícil de fazer.

É necessário, diz ele, rever a fala do seu colega Francis Collins, na apresentação da sequência do genoma humano, em 2000. Na época, Collins dizia que, em dez anos, testes genéticos diagnosticariam câncer, Alzheimer e diabetes. Não aconteceu.

"Nós realmente acreditávamos nisso. Mas não ter acontecido não significa que exista algo errado com o nosso campo", diz Green, que esteve no Brasil para o Simpósio Avanços em Pesquisas Médicas, da USP.

"Se você olhar para os avanços médicos na história, dificilmente você vai encontrar algo que deixou de ser uma descoberta científica básica e realmente mudou a prática da medicina em uma década", comenta o cientista.

"São sempre 20, 30, 40 anos antes de você conseguir isso. Se tivéssemos sido lembrados disso há dez anos, provavelmente teríamos visto tudo de maneira diferente."

Além das interações entre genoma e doenças terem se mostrado complexas, Green lembra que há uma limitação de recursos humanos. "Não há gente jovem suficiente treinada tanto em computação quanto em biologia, e precisamos de gente boa nas duas áreas."