Entre tantas cenas memoráveis de "ET - O Extraterrestre", do velho
Spielberg, há uma que comove os corações mais nerds: descobre-se que o
pequeno alienígena tem DNA, mas com seis "letras" químicas, em vez de
quatro, como ocorre na Terra.
A descoberta anunciada na quinta-feira pela Nasa talvez seja ainda mais radical que a do filme. Não é todo dia que um elemento químico antes barrado no seleto grupo de átomos cruciais para a vida acaba passando no teste --caso do "venenoso" arsênio.
e fato, as implicações disso têm um quê de ficção científica --uma
das especulações mais comuns entre os autores do ramo é que certos ETs
tenham silício no lugar de carbono em suas moléculas. A grande questão é
saber se a química da vida é contingente ou necessária.
Em termos menos filosóficos: se o DNA, as proteínas e outras moléculas
biológicas são do jeito que são por causa da maneira particular, casual,
pela qual a vida evoluiu por aqui ou se as características delas são
essenciais para qualquer ser vivo, em qualquer canto do Universo.
No segundo caso, achar vida fora da Terra depende essencialmente de
achar outras "Terras" pelo Cosmos. A lenga-lenga de sempre: planetas com
água no estado líquido, atmosferas relativamente espessas, rochosos
etc. Mas a bactéria do lago Mono pode indicar um Universo bem mais
fértil do que se poderia esperar.
Afinal, se a química da vida terráquea é versátil a ponto de trocar um
átomo dito essencial por um "primo" na tabela periódica, deixa de ser
absurdo cogitar que outras situações como essa estejam acontecendo
dentro ou fora do Sistema Solar.
Que tais coisas aconteçam neste planeta é um tributo a outra frase de
Spielberg, em "Parque dos Dinossauros": "Life finds a way" ("a vida dá
um jeito").
Texto adaptado de:http://www1.folha.uol.com.br/ciencia