O Brasil já gasta tanto com ciência quanto a
Espanha ou a Itália, mas ainda está atrás de ambas na sua capacidade de
transformar esse dinheiro em resultados palpáveis.
Essa é a conclusão de um novo relatório da
Unesco, que é divulgado de cinco em cinco anos. Entre 2002 e 2008, os anos
utilizados como referência, o investimento em pesquisa no país passou de R$
25,5 bilhões para R$ 32,7 bilhões.
Esse foi um dos fatores que fizeram a produção
científica brasileira pular de 12 mil artigos científicos para 26 mil nesse período.
A outra causa, na opinião de Hugo Hollanders,
especialista holandês em inovação que é um dos responsáveis pelo relatório da
Unesco, foi a evolução da internet, especialmente da banda larga, que permitiu
a difusão mais rápida do conhecimento entre os pesquisadores dos países em
desenvolvimento.
"A ciência mundial era dominada por Europa,
Japão e EUA, mas o mundo está se tornando gradualmente multipolar. Coreia,
Brasil, China e Índia estão desenvolvendo as suas potencialidades, ainda que a
África continue atrasada em relação às outras regiões", disse Irina
Bokova, diretora-geral da Unesco.
A situação asiática, porém, é melhor do que a
brasileira. Hollanders lembra que "nos últimos cinco anos, muitos líderes
acadêmicos americanos e europeus têm recebido convites de trabalho e vultosos
orçamentos de pesquisa em universidades do Leste Asiático".
O grande problema do Brasil, porém, é escorregar
na hora de tirar a pesquisa da universidade e levá-la às empresas, diz o
relatório. Três quartos dos cientistas do país estão nas universidades, quase
sempre públicas -nos EUA, quase 80% deles trabalham na iniciativa privada.
Existem exceções, como a pesquisa tecnológica no
setor aeronáutico e no campo (o cultivo de soja e a produção de etanol, por
exemplo), mas, em geral, as empresas brasileiras investem relativamente pouco
em inovação.
Além disso, as empresas do país reclamam da falta
de trabalhadores qualificados, especialmente em áreas ligadas à engenharia.
Isso acontece porque o país começou a investir tarde em formação avançada.
Com universidades muito jovens (a Unicamp, por
exemplo, tem menos de 50 anos), o Brasil pode gastar até mais do que países
europeus (com universidades mais velhas que o Brasil), mas vai precisar esperar
alguns anos ainda até ter uma massa crítica de cientistas.
O consolo é que, entre a os países em
desenvolvimento, o Brasil vai bem. O resto da América Latina está
cientificamente estagnado. Na África, alguns países até crescem rapidamente,
como Angola e Nigéria, mas partindo de atividades pobres em pesquisa, como a
mera extração de petróleo com técnicas consagradas.
Texto adaptado de:http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/