Menos de um ano após ter a perna arrancada por um
jacaré na Amazônia, a bióloga paulista Deise Nishimura, 24, volta nesta
segunda-feira para o local onde foi atacada. Ela vai retomar sua pesquisa com
botos cor-de-rosa da região.
Em 30 de dezembro, quando limpava peixe na
varanda da casa flutuante onde morava, em uma reserva florestal isoladas no
Alto Amazonas, foi atacada por um gigantesco jacaré-açu.
A região tem uma dos maiores populações desses
répteis do Brasil, com cerca de 90 animais por habitante.
O jacaré-açu, que é o maior predador da América do Sul e pode chegar a seis metros de comprimento, pulou cerca de um metro para alcançá-la.
O bicho a levou para o fundo do rio com
aproximadamente três metros de profundidade e arrancou sua perna.
Deise só conseguiu escapar porque se lembrou de
um documentário que havia visto na televisão.
"Eles falavam que a parte mais sensível do
tubarão era o nariz. Eu imaginei que também fosse assim com o jacaré. Então,
quando e encontrei duas aberturas na cabeça dele, que eu não sei se eram os
olhos ou o nariz, apertei com toda força", diz.
Já refeita do susto, ela fala em tom de
brincadeira: "Foi com tanta força que eu até quebrei minha unha."
Depois de se livrar do animal, a bióloga conseguiu
se arrastar com dificuldade até o deque onde ancoravam os barcos e gritou por
socorro durante alguns minutos. Em vão. Ninguém estava por perto.
"Quando eu percebi que a água estava muito
vermelha por causa do sangue, imaginei que poderia atrair mais jacarés. Tinha
de sair dali."
Ela precisou se arrastar mais até a casa e pedir
socorro por rádio. Cerca de 15 minutos depois, dois guias de uma pousada local
apareceram para socorrê-la.
O jacaré que atacou a pesquisadora era conhecido
no rio. Deise já havia tirado algumas fotos do animal, que costumava dormir bem
embaixo da casa flutuante.
Ao ficarem sabendo do ataque, moradores de uma
comunidade ribeirinha da região mataram o animal e recuperaram a perna da
cientista. Mas, pelo tipo de lesão e pelo tempo passado desde o ataque, os
médicos decidiram não a reimplantar.
Apesar do trauma, Deise fala com tranquilidade,
normalmente sorrindo, sobre o episódio. "Ainda estou aprendendo a fazer as
coisas, realmente me adaptando à nova realidade. Às vezes não é fácil, mas eu
não quero que sintam pena de mim. Quero ser um exemplo de superação", diz
a cientista.
No fim de semana, ela foi ovacionada ao contar
sua história em uma das palestra do TEDx Amazônia, um evento que reuniu mais de
400 pessoas e 50 palestrantes em Manaus.
Foi a primeira vez que a bióloga retornou à
Amazônia desde o incidente.
Nessa segunda-feira, ela volta para o local do
ataque, onde ficará mais um mês trabalhando com o monitoramento de botos
cor-de-rosa.
Ela tem planos de voltar definitivamente para a
reserva onde foi atacada.
Texto adapatado de:http://www1.folha.uol.com.br/ciencia