O Brasil chegará à Conferência da Biodiversidade
de Nagoya, que começa neste dia 18, exigindo pelo menos US$ 1 bilhão por ano
dos países ricos para a proteção da fauna e da flora até 2020.
Também demandará a aprovação de um acordo, há
muito protelado, que estabelece pagamento pelo uso da diversidade biológica
pelas indústrias de alimentos, fármacos e cosméticos.
Sem dinheiro na mesa e sem o protocolo, o país
deve travar as negociações da COP-10 (10ª Conferência das Partes da Convenção
das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica), nome oficial da reunião do
Japão.
Isso significa não apoiar os dois pontos que os
anfitriões estabeleceram como objetivos da conferência: a redefinição de metas
para proteção dos ecossistemas até 2020 e a criação de um painel científico
para avaliar o conhecimento sobre a biodiversidade --o IPBS, uma espécie de
IPCC biológico.
Para o Brasil, ou Nagoya aprova o pacote completo
ou não aprova nada.
Assinada em 1992 no Rio, a Convenção sobre
Diversidade Biológica, ou CBD, teve destino bem diverso do de seu acordo gêmeo,
a Convenção do Clima.
Enquanto esta produziu um mecanismo de
implementação --o Protocolo de Kyoto-- e ganhou à atenção da opinião pública, a
CBD jamais conseguiu ser plenamente posta em vigor.
Sua frouxa meta de "reduzir
significativamente" a perda de biodiversidade até 2010, acordada em 2002
em Johannesburgo, não foi cumprida por nenhum de seus 193 signatários.
Isso se deve em parte à própria complexidade da
convenção, que precisa lidar com temas tão diversos quanto unidades de
conservação, repartição de benefícios para comunidades tradicionais e transgênicos.
A agenda do clima também acabou
"sequestrando" a da biodiversidade. A proteção às florestas acabou
"pulando" para o debate climático, na forma do Redd (mecanismo de
redução de emissões por desmatamento).
Hoje o Redd conta com US$ 4 bilhões, enquanto o
GEF (Fundo Ambiental Global), criado na Eco-92 para financiar a CBD, tem apenas
US$ 300 milhões.
Texto adaptado de: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/812553-brasil-pode-travar-acordo-global-de-biodiversidade.shtml